Poeta, escritor e crítico literário

Versos sortidos
“Um grama, apenas, do abstrato” é o quinto livro de Fabiano Fernandes Garcez; um livro dividido em quatro partes: Luto, Afetação, Espanto e Indagações.
As duas primeiras seções do livro – Luto e Afetação – reúnem aqueles que estão entre os melhores poemas de Garcez; poesia em ponto maduro, com temas bem desenvolvidos, trabalhados, e ótimos arremates. Como acontece na poesia oriental, muitos poemas, ao final, encontram uma revelação.
É de se destacar, nesses primeiros quadros, os poemas “Desenho I”, “II” e “III”: vê-se, aqui, uma obra aberta, em progressão, em busca de sua melhor forma, reflexo do próprio autor.
A terceira parte do livro é Espanto: ponto da obra em que poesia e prosa se aproximam, tocam-se, colidem: reverberam o beat do coração e da estrada: encontram o nonsense, o fluxo de ideias, paralelismos psicológicos. Nem tudo tem razão de ser, mas é.
Para o último quarto da obra, Fabiano traz Indagações; poemas que abrem e fecham com interrogações próprias de quem sente as perplexidades e contradições da vida.
Permeando e pontuando todo o livro está a musicalidade dos versos: a melodia das palavras e o ritmo no arranjo entre elas: efeitos que Garcez consegue pelo uso de aliterações e pelo uso de palavras tomadas e decompostas até a raiz.
Embora não haja em “Um grama, apenas, do abstrato” poemas que possam ser classificados como “visuais”, Fabiano faz bom uso da espacialidade dos versos: jogo hábil entre o vazio da página e o campo ocupado pelas letras.
As imagens, no entanto, são pintadas pelas próprias palavras. Há de se ver o “teto da epiderme”, a “jornada em spicatto”, o “dígito/ na pele/ outra” como a “tirar a lingerie da realidade” num “gargarejo de vogais”.
Fabiano é um poeta que conhece poetas: poetas de outros tempos e seus contemporâneos... e sua obra conversa com todos. Mira no que diz e acerta, também, no que não diz. Afinal, a poesia precisa ter um ar de abstração.
César Magalhães Borges
Maio/ 2019
4289°C
para Celso de Alencar
ontem cremamos meu pai
hoje o tenho reduzido
a fragmentos tenuíssimos
todo ele pulverizado
partículas suspensas
em repouso nesta urna
não confesso a minha mãe
que na urna acham-se cinzas
de corpos alheios além
de madeira e cetim
firmo o precioso cântaro
na fúnebre estante
da sala onde jazia
meu avô pai de meu pai
estandarte de morte e pó
onde faço minhas preces
sem me ajoelhar
e onde um dia minhas cinzas
serão repousadas
A caverna dos sonhos esquecidos
Um buraco da Rua Augusta
me leva a um abismo no tempo perdido do paleolítico
onde mais tarde nasceria o Reino de França
O sussurro de Herzog desperta noites e noites esquecidas
o aspecto da rocha entalha litros e litros de sonhos
áureos de Ernst Reijseger
Cavalos, alces, bisões
rinocerontes lanosos, ursos e leoas das cavernas
deixam pegadas impregnadas
em minhas pálpebras ancestrais
enquanto estalactites e
estalagmites
enfeitam a escuridão do brilho labiríntico
A parede de pedra
tela anfitriã
relata todo o ocorrido aos meus olhos boquiabertos, satisfeitos pelo triângulo púbico
de coxas a passar a noite com o minotauro
na câmara dos leões
É quando duas dançarinas celebram
à esquerda de meus olhos
a descarga telúrica do calcário
sob o pulsar de meu peito
estacionado na ignorância das mãos científicas
me ponho postado ao perceber que sou eu o artista que manipula a tinta da descoberta
Certo problema
para Ângelo Donizette
Mas que
sentido
o fez
soltar
a vogal
em meio
à imensidão?
Que consciência
soou que
o fez
abaixar
deixar a
conversa manca
e recolher
nas mãos em concha
côncavas
o indefeso inseto
mediante o
esmagamento?
Que gesto
num mundo
em que a vida
é indigesta
mesmo até
de um ser
mais reles
que o som
de pólvora
que o som
de níquel
que o som
surdo da adaga
que range
que rasga
roupa, carne
e penetra
adentrando
cavando fundo
em cada um
a cada noite
a cada amanhecer
Que gesto é esse
que me fez
esse poema
em prol de apenas
um risco
um cisco
uma centelha
Enquanto
a abelha
segue
seu alheio voo
rumo
a horizonte
inconstante

Sobre mim

Nasceu a 3 de abril de 1976, na cidade de São Paulo.
No ano de 2003, com ajuda de outros poetas da Zona Norte, realiza o1 Sarau no Centro de Convivência Cora Coralina. Neste mesmo ano desenvolve um Ateliê de poesia para esta casa.
Em 2004 é eleito para o Fórum de Cultura Jaçanã/Tremembé. Frente ao valor arquitetônico, histórico, cultural e afetivo do prédio, o Fórum formalizou o pedido de Tombamento enquanto Patrimônio Histórico do prédio junto ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Ainda em 2004 realiza uma palestra no I Fórum da Juventude: A ideologia do curinga - Um paralelo sobre a falta de ideologia da atual sociedade brasileira e o livro: O dia do curinga do autor norueguês Jötein Gaarder.
Forma-se em Letras, em 2005, e participa da antologia: São Paulo Quatrocentona.
Lança seu primeiro livro de poemas: Poesia se é que há em 2008.
Participa assiduamente do Sarau Cora Coralina na Casa de Cultura Tremembé até 2009, quando se muda para a cidade de Guarulhos. Realiza palestra na Biblioteca Monteiro Lobato (Guarulhos): A poesia contemporânea em debate. Neste mesmo ano é convidado pelo autor Ulisses Tavares para integrar a antologia: Poemas que latem ao coração! Participa do projeto Literatura em Questão da Biblioteca Monteiro Lobato (Guarulhos) com a palestra: Tese e Antíteses em “Cidade e as Serras”.
Em 2010 é jurado pela cidade de Guarulhos da fase municipal do Mapa Cultural Paulista – Edição 2009/2010, na área de Poesia. Lança seu segundo livro de poemas: Diálogos que ainda restam. Juntamente com outros escritores do Selo Vale em Poesia funda o grupo literário Vale Foco para fomentar e discutir a literatura do Vale do Paraíba. Faz parte do grupo idealizador do espaço do escritor guarulhense Lê Guarulhos.
Participa da Semana do livro do Shopping Buriti (Guaratinguetá), em 2011, com o tema: A poesia contemporânea que transcende o formato da rima. O Lê Guarulhos participa com sucesso no II Salão do livro de Guarulhos.
No III Salão do livro de Guarulhos, em 2012, no estande do Abril Literário ministra a palestra: Guarulhos tem poesia, no estande do Lê Guarulhos lança Rastros para um testamento, seu terceiro livro de poemas. Em julho participa do Sarau Poemas à flor da pele no Centro Cultural São Paulo, lançando Rastros para um testamento na cidade de São Paulo. Em dezembro participa da 54º Edição da Quinta poética, curadoria de José Geraldo Neres, na Casa das Rosas.
Em 2013 participa do XXVII Simpósio de História do Vale do Paraíba em Aparecida – SP, em duas palestras: A legitimidade da poesia de Tonho França no mundo contemporâneo e O Macro-universo de Wilson Gorj em sua micronarrativa e participa da mesa de discussão: A prosa do Vale do Paraíba. Em Guarulhos é integrante da mesa de debates sobre literatura nacional na Semana do livro Nacional na livraria Nobel unidade de Guarulhos, nesta mesma livraria ministra uma Workshop de literatura, onde aborda: poesia, conto, crônica e micro-conto. Integra a antologia Vinagre: uma antologia de poetas Neobarracos. Em dezembro participa da 64º Edição da Quinta poética, curadoria de Paulo Sposati Ortiz, na Casa das Rosas.
Participa pelo segundo ano da mesa de debates sobre Literatura Nacional na Semana do livro Nacional na livraria Nobel unidade de Guarulhos, em 2014, também em julho é convidado do Colóquio Anual de Literatura, no Curso Popular Salvador Allende. Em novembro participa da 71ª edição da Quinta poética, organização: Escrituras Editora e Casa das Rosas. Curadoria desta edição: Celso de Alencar. Escreve diversas críticas literárias, tem diversos textos publicados nas revistas Conhecimento Prático Literatura e Conhecimento Prático Língua Portuguesa. Integra a antologia: Hiperconexões: realidade expandida, vol. 2.
No ano de 2015, em julho, é entrevistado por Janethe Fonte, no programa Diálogo da OESTV, ao lado de Raquel Naveira, ainda no mesmo mês, é mediador da mesa: Publicação e Marketing pessoal, velhas e novas tecnologias de publicação, da IIIª Semana do livro Nacional na livraria Nobel unidade Guarulhos. Em outubro ao lado de César Magalhães Borges e Érico Marin, faz uma apresentação sobre Contracultura, Cultura Pop e Poesia, no Dia Nacional do Livro, também na livraria Nobel unidade Guarulhos onde participa, neste mesmo mês, do encontro mensal Tragos& Papos em Verso & Prosa. Em novembro ministra a palestra: Contracultura e Poesia, na Jornada de Letras 2015, da Faculdade Guarulhos. É convidado para recitar poemas de Marina Teixeira no Sarau Gente de Palavra, em dezembro.
Em fevereiro de 2016, apresenta para as crianças do Colégio Liceu Coração de Jesus a palestra Poesia é brincar com palavras. Em maio lança, pela Editora Patuá, o quarto livro: Em Meio aos Ruídos Urbanos, no 5º Salão do Livro de Guarulhos. Em junho participa do Desconcertos de Poesia, de Claudinei Vieira, com mais um lançamento do livro: Em Meio aos Ruídos Urbanos, neste mesmo mês é convidado a recitar poemas de Ademir Assunção no Sarau Gente de Palavra. É um dos membros fundadores do Sarau da Paulista. Participa de uma conversa sobre O Verso Contemporâneo, em outubro, no 2º dia nacional do livro ao lado dos poetas Érico Marin e César Magalhães Borges, com mediação de Aline Araújo. Em novembro, é um dos convidados do Sarau Gente de Palavra para homenagear o poeta e amigo Celso de Alencar. Continua participando dos encontros mensais dos Tragos & Papos em Verso & Prosa e do Sarau da Paulista.
Em janeiro de 2017 começa a entrevistar poetas para o canal Sala de Leitura no Youtube, onde entrevista diversos poetas contemporâneos. Participa do encontro Carregue seu Patuá na livraria Alpharrábio de Santo André ao lado de poetas como André Merez, Elisa Andrade Buso, Lilian Aquino, Ricardo Escudeiro e Rosana Chrispim, com mediação do poeta Tarso de Melo. Em outubro é convidado do 3º dia nacional do livro ao lado dos poetas Érico Marin e César Magalhães Borges, Auriel Filho e do escritor Wagner Hilário, com mediação de Aline Araújo. Em novembro o livro Em meio aos ruídos urbanos é finalista na categoria Poesia e na categoria Escritor do Ano do Prêmio Guarulhos de Literatura 2017. É convidado do Sarau Palavra Subterrânea, na Sensorial Discos, ao lado dos poetas Lilian Sais e Rubens Jardim. Continua participando dos encontros mensais dos Tragos & Papos em Verso & Prosa e do Sarau da Paulista.
Em 2018, continua as entrevistas no canal Sala de Leitura, publica o texto Celso de Alencar e seu universo perverso, com tradução para o francês, no primeiro número da revista Itapuan. Neste mesmo ano participa de duas antologias: Antologia Primata, editora Primata e Antologia da Resistência – A poesia queima, Editora Patuá.
Continua com as entrevistas no Sala de Leitura e na curadoria e apresentação do Sarau Santa Sede. O livro Um grama, apenas do abstrato (ainda inédito) vence o Prêmio Guarulhos de Literatura, na categoria Poesia de 2019. Além disso participa de três antologias: Mediocridade antologia poética, Laranja Original, Sarau Paulista, editora Patuá e Rubens Jardim, editora Patuá.
Em 2020, publica Badaladas de uma preliminar pela editora Primata, reunião dos três primeiros livros Poesia se é que há (2008), Diálogos que ainda restam (2010) e Rastros para um testamento (2012) além de alguns poemas apenas publicados em antologias.
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